Eu sou declaradamente fã de Cazuza, do brilhantismo de sua obra, da beleza de suas palavras, dos versos que se transformaram em fortes canções marcantes em uma geração, tornando-se filosofia para quem visa boas ideias e um mundo melhor. O poeta escreveu: “Vamos Cantar... Pra pessoas de alma bem pequenas/ Remoendo pequenos problemas/ Querendo sempre aquilo que não têm”.

Pelo antigo testamento, Caim matou seu irmão Abel... Ou seja, desejar o que é do outro e ter alma bem pequena é ritual bem antigo; muito mais antigo que nossa vã filosofia. E se fôssemos inteligentes suficientemente, já teríamos abolido, de nossas mentes e corações, esse imenso mal chamado inveja. Um veneno que atravessou o tempo e ameaça a humanidade, atingindo boas pessoas com a cobiça, ganância e até a morte.

Se você quiser testar a personalidade de alguém, basta conceder a ela o poder. Ou melhor, basta verificar como se comportam os amigos de quem tem o poder. Nem sempre esse poder precisa ser material, qualquer “coisa” que seja destaque é suficiente para que a inveja e, é claro, o invejoso manifestem-se.

O maravilhoso Renato Russo acreditava que apesar de a humanidade ser desumana, ainda teria (temos?) chances. Porém, a cada dia mais, o que vemos é a luta pelo poder desenfreado e sem medidas, luta por terras, por petróleo, por audiência, por troféus, pela melhor roupa. Quanta futilidade e quantas almas bem pequenas... Chega a dar desespero em quem presencia tantos “shows”, e o mais engraçado é que muitas vezes estamos envolvidos em muitos deles sem nem ao menos termos conhecimento disso. Basta sermos destaque em qualquer situação para ficarmos imersos em uma nuvem de intrigas, inveja e inibições. Seja na vida amorosa, familiar, no trabalho, nos estudos... respirando.

É uma pena a demora, mas há a esperança de que um dia todos tomem consciência de que o sol nasce para todos, como o próprio Renato sempre acreditou. Não é necessário desejar o lugar de ninguém no mundo, pois temos nosso próprio lugar: alguns em um posto mais alto; outros mais baixo, tudo dependendo do ângulo para qual olhamos nossas vidas.

Todos somos igualmente importantes. Médicos, dentistas, professores, jornalistas, secretários, garis, advogados, artistas e infinitos outros. Todos ocupamos um papel nesse palco chamado VIDA e ninguém precisa querer roubar a cena de ninguém para aparecer: existe sempre alguém nos olhando. E com muito “poder” ou não, aparecendo na mídia ou não, nosso inevitável destino é o mesmo: partir! Nem nossos queridos mestres Cazuza e Renato fugiram da passagem. No entanto, foram tão grandes e com certeza tão invejados em vida.

Mas eu estou com eles e penso que a solução para a inveja é acreditar na humanidade e cantar para as pessoas de almas bem pequenas, afinal eu pertenço ao primeiro time, desejo ao próximo o que desejo para mim, AMOR, e só conheço a inveja dos dicionários e dos relatos dos amigos que já foram alvos, e é o suficiente para não querer afinidades maiores. 

Se você está na mira da inveja, cante e torça para que o invejoso seja feliz. Coração grande é sinônimo de alma grande. E se um dia sentir uma pontinha de inveja querendo entrar em você, espante-a rápido. Afinal, você não quer música em sua homenagem, não é?!

Fernanda Moreira
Professora de Língua portuguesa, psicopedagoga institucional e especialista em Literatura brasileira.
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E-mail: femoreirasilva@hotmail.com