Márcia Atik

O medo da felicidade

Falar, escrever e pensar em felicidade parece fácil, mas a gente observa e sabe que, ao contrário do que se pensa, é muito mais fácil se queixar de algo que não vai bem do que apenas dizer ´estou feliz´.Como se ao falar que se está bem e feliz fosse um risco de se perder tudo. Por que isso acontece?

Eu não acredito que os deuses colocam um limite para a felicidade e nem que a inveja alheia a destrua.

O medo da felicidade, na verdade, está dentro de nós e tem sua origem no trauma do nascimento. Eu explico: na barriga da nossa mãe vivemos em êxtase, harmonia total e... De repente aquilo se acaba.

que a lembrança desse estado de perfeição fica associada à explosão do parto. Então, sempre que nos sentimos próximos do êxtase tememos que isso ocorra de novo e que tudo novamente se acabe num plano totalmente inconsciente e natural.

Mesmo que não tenhamos controle dessa emoção diante de uma situação boa e prazerosa tendemos a ficar num estado de alerta e pânico ou até mesmo podemos sabotar esses momentos, mesmo que não tenhamos essa intenção.

Isso ocorre porque nos protegemos do medo e da dor da perda da felicidade plena, às vezes fabricando situações que por si disfarçam a felicidade ou a dificultam para não ficarmos angustiados e assim se, por exemplo, estamos num ótimo momento numa relação, criamos uma situação qualquer para que a relação fique com um jeitinho de imperfeição e tenhamos do que nos queixar ou até mesmo lastimar a nossa infelicidade.

Como esse processo todo está associado a um fato inevitável - o nascimento - devemos ter atenção nos nossos relacionamentos e nas nossas vidas, para que ao entendermos esse mecanismo saibamos administrá-lo, ficando atentos as nossas reações muito mais que as reações dos outros, evitando os comportamentos e escolhas autodestrutivas e desanimadoras.

Esse mecanismo é muito comum nas pessoas que, ao invés de desfilarem sua beleza e alegria numa festa, dançar e se divertir, acabam bebendo muito e ficam alienadas do espetáculo da sua própria vida.

Nesse movimento de olhar para mim, aprenderei a ficar menos encantada com aquisições materiais e me habituarei a alegria e ao gozo e o medo perderá seu espaço nesse vivenciar de ensaio e erro.

Quando nos acostumamos com as coisas boas e nos vemos merecedores delas, podemos usufruí-las mais e vamos querer sempre mais. Quem é que não quer nessa vida ser cada vez mais feliz?

Psicóloga clínica, conferencista, com especialização em Sexualidade, Terapia de Família e Casal, Transtornos Alimentares e Doenças Psicossomáticas, Márcia Atik tem vasta experiência na área, seja atuando em consultório, coordenando grupos, ministrando palestras em escolas, empresas, associações, sindicatos, prefeituras e demais organizações. É membro do Centro de Estudos e Pesquisas do Comportamento e Sexualidade (CEPCOS).
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