Por Christina Ferraz Musse

Quando era pequena, isso há muito tempo atrás, adorava a chegada do período de férias escolares. Morava no Rio de Janeiro, e era então que pegávamos o carro antigo do papai, às vezes a litorina, para fazer a viagem até Juiz de Fora e passar a temporada de férias na fazenda da Floresta, que pertencia à família de meu avô. A subida da serra de Petrópolis, as curvas da antiga União Indústria, a parada em Areal para um pequeno lanche, as brincadeiras no velho Mercury, depois substituído por outros carros, nunca me saíram da memória.

Mas o melhor mesmo era quanto chegávamos ao trevo de Bicas e pegávamos a estrada de chão, que anunciava todas as aventuras à nossa espera. A poeira, a escuridão, a mata cheia de mistérios, o barulho dos grilos e o perfume do ar... Para mim, até hoje, essas são as sensações mais próximas ao que posso chamar de felicidade.

Juiz de Fora exerceu tanto fascínio sobre minha família que, ao contrário de muitos moradores da cidade, eu, meus pais e meus irmãos praticamente nos mudamos para cá, deixando o centro maior para nos estabelecermos na cidade mineira. Vim, quando me casei, e, hoje, sou mais mineira do que qualquer outra coisa. Ou melhor, juizforana, que é um ser meio híbrido entre o carioca e o mineiro. Moro no centro, trabalho no centro, mas, nos finais de semana, não resisto ao chamado da Floresta, do bairro Floresta, onde, hoje, tenho um sítio. É para lá que eu me dirijo para me livrar das tensões da semana e para me sentir mais plena, harmônica, em comunhão com a natureza. Não vou mais para a fazenda que, hoje, pertence a um primo da minha mãe, mas fico meio escondida naquele sítio que me parece um pedaço inseparável de mim.

Quando chego, o perfume do ar me inebria, como há tantos anos atrás. Lembro-me das leituras de francês e das "madeleines" de Proust. E quero parar o tempo, mergulhar naquele mar de sensações que nos permitem nos sentir num lugar à parte, num outro espaço-tempo, que não o deste mundo, demarcado pelas paredes e pelos ponteiros do relógio. Ali, cercada de árvores centenárias, envolvida pelo canto dos barbados ( uma espécie de macaco ), o cheiro da mata, e um céu totalmente azul, redescubro, semanalmente, o sentido da transcendência e da felicidade.

Acho até que, em tempos de tantas ameaças, seria plausível criar uma ONG, uma associação, fundação, qualquer coisa, que me garantisse a fruição dessas sensações até meus últimos dias. Não só para mim, mas para que outros pudessem partilhar desse verdadeiro patrimônio de paz e beleza. Pois bem. Para felicidade de todos, está, então, fundada, pelo menos no papel, a nossa ONG: "Apaixonados pela Floresta".

Que ela possa reunir todos os amantes, os poetas, os sonhadores, que ainda sabem encontrar e lutar pelo direito ao prazer, à paz e à emoção.

Christina Ferraz Musse