Ousar é preciso
Por Christina Ferraz Musse
Atualmente, ando fascinada pelos textos de marketing e administração de empresas em geral, que apontam novos rumos para a gestão de negócios. Entre as revistas e artigos que me chegam às mãos, um chamou-me especialmente a atenção. É o que relata a experiência bem sucedida de uma pequena empresa belga, a Ecover, criada em 1992, e que se dedica à fabricação de produtos de limpeza. Uma pequena empresa com uma grande idéia, tanto que tem deixado de cabeça quente muitos gigantes do setor.
O executivo de Ecover, Gunter Pauli, conseguiu construir aquilo que para nós ainda é exceção, mas, na Europa, é, cada vez mais, a regra: uma fábrica ecologicamente correta, que tem um sistema de tratamento de água movido a energia solar e eólica e é cercada por uma enorme cobertura de grama que mantém a fábrica fresca no verão e quente no inverno. Soluções quase que caseiras, mas que sinalizam para um novo modelo de empresa: pequeno, flexível, harmônico. A aventura da Ecover não pára por aí: a fábrica não quer apenas ser uma atração para os defensores do verde. Ela quer vender produtos que não agridam o meio-ambiente e que tenham preço e qualidade e, para tanto, investe pesado em pesquisa, utilizando a química dos recursos renováveis ( açúcar, vinagre, óleo de coco podem ser ótimas matérias-primas para fabricar detergente ).
Mas em toda a história recente da Ecover, o que me parece mais instigante é que sua filosofia de ação se baseia não só no trabalho ecologicamente correto, base do marketing desenvolvido para atrair um grupo cada vez maior de clientes, mas também numa gestão que busca relações mais justas entre o comércio dos países em desenvolvimento e os países ricos. Para tanto, a Ecover tem uma experiência inédita, na Colômbia. Como a empresa belga consome óleos essenciais, que importa deste país latino-americano, ela tem incentivado, através do pagamento de um preço atraente, o cultivo das plantas que produzam perfumes naturais. Segundo Pauli, um fazendeiro da Colômbia conseguia 12 dólares por acre cultivando café e 300 dólares cultivando coca. Ele pretendia pagar 600 dólares por acre de folhas de limão. E, além disso, planejava comprar o produto diretamente de uma cooperativa de plantadores, de um beneficiador e de um processador local, em vez de usar intermediários.
Não sei se todos esses planos se concretizaram. Não tive como acompanhar o final da história. Mas fiquei boquiaberta e feliz em pensar num modelo de capitalismo que não precisa, necessariamente, ser do tipo selvagem. De certa forma, a empresa belga está antecipando tendências e um comportamento que eu espero ser cada vez mais comum no século XXI. A Ecover está dando um exemplo de cidadania empresarial. Está provando que para "fazer dinheiro" não é necessário arruinar com o meio-ambiente ou se aproveitar da situação dos parceiros mais frágeis para faturar mais alto. . Acredito que nós, brasileiros, principalmente aqueles que vivem em cidades de porte médio, como é o caso de Juiz de Fora, devemos ter a ousadia de buscar soluções como a apresentada por Gunter Pauli para nossas empresas. Podemos transformar o exemplo do empresário belga num modelo a ser seguido e que consiga nos garantir uma posição de referência em termos de países de Terceiro Mundo. O desenvolvimento sustentável, a economia solidária podem se transformar num exemplo que deve ser a regra, e não mais a exceção.
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