Por Christina Ferraz Musse

Não há nada melhor, na minha opinião, do que entrar de férias e logo, logo, pegar o avião. No meu caso, o destino escolhido foi Portugal. Alguns amigos ainda perguntaram: "Por que não a Espanha? Ou a França?" Não, eu queria seguir mesmo para Portugal, embalada pela expectativa de redescobrir raízes e trazer à tona um passado tão mal explicado e relações tão mal trabalhadas no dia-a-dia. O resultado foi muito além da expectativa. Portugal tem tradições maravilhosas, uma arquitetura de tirar o fôlego, gastronomia de primeira e vinhos, vinhos que são um verdadeiro sonho.

Lisboa, nesta época do ano, é um banquete para os olhos. Os dias são luminosos e dão um tom ainda mais vibrante ao casario que se espalha pelas colinas da cidade. Nada melhor do que percorrer o centro de "elétrico" ( o bonde de lá ), degustando o som das palavras e o ritmo das frases. Pois é. Lisboa ainda tem bondes, ruas calçadas com paralelepípedos, casas com a pintura descascada, roupas penduradas nas janelas, lampiões, azulejos. É uma cidade única, que ainda não sucumbiu à pasteurização global. O ar, às vezes decadente, de certos espaços do centro, nos dá a certeza de uma cidade viva, com gente que se esbarra nas ruas, que troca idéias nos cafés. Talvez seja este encanto único, associado às facilidades de se fazer turismo, num lugar em que a violência ainda se resume a alguns poucos batedores de carteira, os preços são altamente compensadores ( principalmente para nós, latinos ) e existem facilidades muitos grandes de transporte ( o metrô é limpo, organizado e funciona muito bem ), que façam de Lisboa um centro super ativo de turismo, com visitantes de diversas parte do mundo, em especial, alemães, franceses e americanos.

Mas Portugal vai muito além de Lisboa e conhecer o interior do pais é um desafio mais do que compensador. Cidades medievais como Óbidos, Guimarães, Estremoz e Évora ( aonde não se vê nenhum campo de golfe! ) são um presente para o turista, ansioso por se deixar perder pelas ruelas estreitas, adornadas de casas caiadas de branco e buganvílias coloridas. Em todas as cidades, existe um variado e extremamente bonito artesanato regional, com destaque, é lógico, para as cerâmicas, além de trabalhos finíssimos em cama, mesa e banho. Difícil, mesmo, aqui, é escapar da tentação consumista. Portugal consegue unir a tradição ( que a gente vê de sobra em excelentes ourivesarias ) ao arrojo do design e da moda. Existe um Portugal antigo e um Portugal novo e vale a pena conhecê-los.

Tenho vontade de escrever e escrever mais e mais sobre as pequenas aldeias, os vinhedos do Minho e do Douro, os doces delicados das pastelarias, a beleza estonteante do Porto, a fé mística de santuários como o de Fátima, a paisagem agreste da Serra da Estrela ( onde se faz um queijo maravilhoso! ), a beleza dos sobreiros ( que produzem a cortiça ), no Alentejo. Portugal não é só fado ( mas ir ao Parreirinha d'Alfama, em Lisboa, é indispensável ), nem só bacalhau ( que é delicioso, embora os populares bolinhos sejam servidos frios ).

Até para os descolados e modernos, Portugal oferece noites animadas (que varam a madrugada, nas docas do Tejo, na capital ), centros comerciais com uma variedade imensa de produtos de qualidade, uma indústria que se recicla rapidamente, dezenas de museus, um agito cosmopolita. São opções que apontam para um novo cenário. Em todas as cidades, o ritmo de vida parece frenético, as ruas estão cheias de obras, as estradas estão sendo ampliadas, as pessoas reconhecem que, hoje, não precisam mais abandonar o pais para conseguir um emprego ou serviço. Não sei se estes novos ares são os reflexos da Comunidade Européia, da qual Portugal faz parte desde 1986.

Na verdade, existe algo de novo no ar e eu torço para que este país, que se renova, encontre a resposta para as suas questões sem perder a poesia, a beleza e a tradição.

Um brinde de Porto a Portugal!

Christina Ferraz Musse