Gosto não se discute?
Por Christina Ferraz Musse
Tenho a tentação de fazer neste texto, como em muitos filmes americanos, a continuação do primeiro episódio de uma série. Explico melhor. Na semana passada, escrevi sobre o tema: "O inferno são os outros". Agora, por pouco, não repito o título, acrescentando, ao final, o numeral II. É isso o que me vem à cabeça, quando relembro a experiência que tive, no último feriadão. Como muitos outros juizforanos, resolvi seguir para Cabo Frio, no litoral do estado do Rio. Não tive problemas com o trânsito, embora o movimento nas estradas fosse intenso. As previsões da meteorologia também foram favoráveis e eu pude desfrutar daquela imensidão de mar azul, transparente, sem maiores problemas. Só que, desta vez, eu não poderia adivinhar que teria a companhia da batida "funk" a me acompanhar.
Você já se imaginou numa praia num dia de céu azulzinho, sem nuvens, aquela brisa vindo do mar, a areia fininha a tocar sua pele, aquele calor gostoso... Tudo isso parece a imagem do paraíso, não é mesmo? Agora, imagine-se na mesma praia, que não fica no Caribe, mas apenas a alguns quilômetros de sua casa, ouvindo uma música "funk", com o refrão "popuzuda" a martelar em seus ouvidos. O som, de péssima qualidade, vem das caixas de som instaladas na traseira de uma Kombi, que você vê estacionada, bem pertinho da areia. E você pensa: "Será que devo ir até lá e, democraticamente, pedir ao motorista que curta o seu som, baixinho? Ou melhor, será que devo lhe sugerir a utilização de um pequeno, simples e barato fone de ouvido? Ou será que devo dar vazão ao meu instinto selvagem e, simplesmente, destruir as caixas de som? Ou será melhor, dentro da minha postura ainda civilizada, apelar para os meus direitos de cidadã, chamar a polícia, os fiscais da Prefeitura ou uma ONG solidária que tenha como bandeira a luta contra a poluição auditiva?"
Se vocês querem saber do final do história, não fiz nada disso. Tive a sorte de ser convidada para um programa melhor e deixei a Praia do Forte, com toda a sua beleza e barulho. No dia seguinte, fui para Búzios. É preferível enfrentar a estrada, mas chegar a uma praia cheia, mas de convivência pacífica, onde o som, um "reggae" rola solto, mas suave, sem machucar ouvidos e sensibilidades. Lendo os jornais, vi que a mesma situação se repetiu em outros locais do litoral do Rio de Janeiro, em especial em Grumari, vizinha da maravilhosa Prainha.
Não tenho nada contra as pessoas curtirem sua praia, acho que este é ainda um dos espaços mais democráticos que existem, mas acredito que democracia precisa de respeito. Pelo cenário que se anuncia, vamos precisar de leis que garantam o mínimo de civilidade nas praias brasileiras. Alguém me falou que, em Salvador, na Bahia, por causa dos abusos com o volume da "axé music", a Prefeitura teve que tomar providências. Acho que, no Sudeste, não vai poder ser diferente. Afinal, para o bem de todos, e felicidade geral daqueles que, como eu, adoram praia, é preciso preservar o convívio pacífico de todos os gostos.
Comentários