Probleminhas e problemões
Por Christina Ferraz Musse
O dia-a-dia de todos nós é cheio de surpresas e imprevistos. Alguns têm tranquilidade para lidar com os problemas. São aqueles felizardos que, quando encontram uma pedra no caminho, são capazes de contorná-la ou pular por cima dela. Aquelas pessoas que, por incrível que pareça, conseguem ver sempre o lado bom das coisas, sabem descobrir o sol atrás das nuvens de tempestade, sempre arrumam tempo para te responder, esclarecer, explicar, ou te dar um sorriso agradável, depois de um dia fatigante. São os amigos iluminados, os colegas sensíveis, que conseguem sair da sua própria concha, do seu mundinho todo organizado para entender o outro, socorrê-lo, acalmá-lo.
Conheço também o outro tipo de pessoa. Aquela que, mesmo no dia de maior sol, olha para o céu e vê nuvens escuras, carregadas, sempre à espreita. Explicando melhor: é aquela pessoa que, literalmente, tem uma nuvenzinha preta a acompanhá-la por todos os lugares. Aposto que você conhece muitas pessoas assim. Elas não sabem ir direto ao assunto, dão milhões de voltas e, nas curvas sinuosas de suas argumentações, arrumam todos os motivos para justificar um pensamento negativo. É o tipo de pessoa que sempre aposta que vai chover no feriado, que tem certeza que a carne vai passar do ponto, que a cerveja vai congelar, que o pagamento vai atrasar, que a gripe vai virar pneumonia. Aquele colega que, logo que você chega ao trabalho, tem sempre uma noticiazinha ruim para te dar, principalmente se você estiver chegando de férias... O filho que, quando você, achando-se linda, está prontinha para sair, logo vem dizendo que a roupa está marcando, a bainha descosturou, a maquilagem borrou. Ou o marido que, ao te ver estreando o caríssimo novo biquini de verão, comenta sobre aquelas indesejáveis "dobras cutâneas" que você tanto se empenhou em eliminar da cintura, malhando durante todo o ano. Tem gente que não pode te ver com um novo projeto, um novo carro, ou simplesmente alegre, numa manhã de segunda-feira, que vem logo sugar toda a sua energia. Não sei se isso é só olho grande. Acho que é negócio meio de vampiro.
Já reparou numa coisa? É só você se encontrar com um tipo desses, trocar meia dúzia de palavras, que você tem a sensação de ter sido sugado por uma força estranha e poderosa. São pessoas que nos dão "aquela canseira". Por isso, se não puder correr delas, gaste o mínimo de tempo com elas, porque, evidentemente, tentar mudá-las, apelando para o lado racional ou emotivo, é extremamente desgastante e não costuma levar a lugar nenhum. Essas pessoas não querem mudar. Elas vivem contentes assim, num mundo complexo, que elas criam ao seu redor e, de que, se você não se proteger, vai acabar por se deixar contaminar...
Ainda bem que existem aquelas outras pessoas, aquelas que têm sempre uma notícia boa para dar. E, muitas vezes, elas estão vivendo um momento difícil, estão cheias de problemas pessoais, mas não se deixam abater. São aquelas a quem você pede um favor e elas não se esquecem de te dar um retorno, mesmo que não tenham conseguido resolver o seu problema; aquelas que você tira da cama, inadvertidamente, mas elas não reclamam, ao contrário, te dão logo uma boa notícia; aquelas que te enviam e-mails sem pedir nada, apenas pelo prazer de compartilhar uma poesia com você; pessoas que te surpreedem com um pãozinho quente recém-saído do forno; um presente surpresa; um convite para um bom programa, naquele fim-de-semana em que você estava condenada a ficar sozinha em casa, sem dinheiro e sem companhia.
Pessoas que te ajudam sem que você tenha que pedir muito, que te consolam, quando você está num mar de agonia, que são solidárias, naquelas horas difíceis, que te dão força, quando você é um poço de dúvidas, que te dão um sorriso, quando você está triste, que te ajudam a colocar o carro na vaga, a trocar um pneu, a carregar as sacolas de compras. Se você der sorte, procure sempre por essas pessoas. Cerque-se delas. Tente ser uma delas. Essas são as pessoas indispensáveis, para que a gente continue a ter prazer na vida.
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