Adolescentes... aborrecentes?
Por Christina Ferraz Musse
Os livros tentam explicar, mas será que nós conseguimos entender o que são os adolescentes? Serezinhos complexos, instáveis, cheios de variações de humor. Ao mesmo tempo, figuras adoráveis, daquelas por quem nos derretemos com a maior facilidade. Crianças que já deixaram de lado a devoção pelos pais e procuram no mundo, vasto mundo, respostas para uma lista infindável de perplexidades.
Os adolescentes querem viver e esgotar as possibilidades. Eles têm uma energia imensurável : adoram doces ( leite condensado, em especial ), conseguem virar a noite sem qualquer esforço ( principalmente se for num show do Jota Quest ), não têm a menor dificuldade em falar ao telefone, bater papo no ICQ, assistir aos melhores clipes da MTV e estudar o último texto de inglês, tudo ao mesmo tempo, agora.
Admiro os adolescentes, pela alegria, pela coragem, pela vontade intensa de viver. Ao mesmo tempo, reconheço que, para mim, como para outras milhões de mães, é muito difícil a arte da convivência. A gente está sempre reclamando que eles não estudam o suficiente, não arrumam o armário, não ajudam a lavar a louça, não telefonam para dar notícias. Não nos conformamos com as roupas espalhadas pelo chão do banheiro, a quantidade de biscoitos consumida vorazmente, os cadernos rabiscados, as despesas que crescem em proporção geométrica. A nossa conclusão é simples e certeira: adolescente só olha para o próprio umbigo. Não adianta pedir, nada, nadinha. Eles podem ter toda a energia do mundo para enfrentar uma maratona de festas, encontros, bailes e shows, mas nunca terão disposição suficiente para quebrar o galho e comprar aquela lembrancinha, para o aniversário do colega do seu filho mais novo.
Mas, olhe bem, não há como negar que eles são sedutores, e como!!!! Não estão presos como nós a normas rígidas de conduta, em casa, no trabalho. Falam o que pensam e não têm tempo a perder. Não querem esperar, têm urgência de viver. Querem experimentar tudo, o tempo todo. São barulhentos, conversam sem parar, têm dificuldades de concentração e não têm paciência para esperar por nada, nadinha mesmo. Mas como não ficar maravilhada, quando eles nos contam suas pequenas novidades e reacendem em nós emoções que já estão quase paralisadas. Como não ficar eternamente prisioneira da risada, das gírias, do balanço, da alegria? Como não sentir o mundo novamente ser redescoberto e reinventado pela quantidade de idéias, propostas, ou simples manias, que jorram com a força da novidade e da rebeldia?
Não tenho qualquer conclusão sobre a melhor regra de convivência. Pelo contrário, acho que não existem muitas regras para isso, com exceção de uma, apenas, que é preciosa: o diálogo. Como em tudo, na vida humana, falar, trocar idéias, estar aberto, rever posições ainda parece a melhor maneira de compartilhar com os adolescentes ( e as pessoas em geral ) de momentos tão preciosos. Hoje, muito cedo, eles começam a andar sozinhos, com as próprias pernas e aí, meio surpresos, vemos como o tempo passa rápido, como, às vezes, bobamente, deixamos passar as oportunidades de convívio. Quando achamos que eles são egoístas, gastadores, e só pensam em si próprios, estamos, de certa forma, cobrando atitudes que não são só as deles, mas também as nossas. Afinal, não é só a matriz genética que passa suas informações de geração para geração. O espaço da casa, o contexto da família, a conversa em volta da mesa ( rara, às vezes, mas tão imprescindível ), a discussão, a diferença, o respeito pelo outro, tudo ajuda a formar pessoas, a construir comportamentos.
A convivência nos dá a chance de rever posições, de reaprender, de tentar ser mais feliz, resgatando dúvidas e questões que, afinal de contas, nos fazem pensar, rir, até mesmo chorar, mas, sempre, manter o espírito aberto para o novo.
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