Por Talita Magnolo

Não chovia lá fora, eu estava sozinha e a casa era aconchegante, era calma. Aquele silêncio não me incomodava, aquele silêncio me abraçava... E eu caminhava pelos corredores e era tomada por um sentimento nostálgico causado pelas fotos penduradas na parede. Os primeiros passos, o primeiro dia de aula, o primeiro aniversário, família reunida.

O silêncio pode ser poderoso. Ele te coloca alerta, te coloca pensativo, te coloca silencioso. Era um domingo, não tinha movimento, havia poucas pessoas na rua, ainda não chovia lá fora e dava até para ver o sol se esforçando para aparecer no meio daquelas nuvens cinzentas.

O que é interessante em estar no silêncio e permanecer em silêncio é que sua mente funciona na sua capacidade máxima, sua imaginação flui. Naquele momento em que o som não existe, sua mente viaja, inventa sua própria música, seu próprio conto de fadas, um cheiro, uma frase, um toque. Tudo é possível.

Chovia lá fora. A chuva, naquele momento, descompassou o meu silêncio. Era um barulho sem harmonia, sem tempo, sem sincronia com que o estava acontecendo na minha mente... Mas ao mesmo tempo, por incrível que pareça, era extremamente convidativa e quando eu dei por mim novamente, estava dançando ao som das gotas que escorriam no vidro da janela do meu quarto. Agora, fora da minha mente, a terra cheirava, o ar era quente, e colocando as mãos para a fora da janela, pude sentir o molhar, a textura das gotas, sua intensidade. Aquilo era a vida, se chocando com meu corpo e invadindo a minha alma.

Embora agora eu estivesse envolta por um novo som, ainda assim, permaneci em silêncio. Ele ainda era convidativo, ainda me abraçava. Mas, agora, eu me abraçava também, eu me confortava e olhava para a janela.

Do barulho ou do silêncio podem sair coisas muito boas, veja a chuva. Ela pode ser barulhenta, pode amedrontar, molhar, acalentar um sono ou tirar um, pode destruir casas ou acabar com a seca de um região. Uma certeza nós temos, sempre que cessa, em algum lugar, mesmo que só de vez em quando, a chuva deixa um silencioso arco-íris, que só pode ser apreciado e confortar alguns corações inquietos por aí, com o silêncio que a chuva deixou.