Por Christina Ferraz Musse

Tem coisa melhor que festa? Acho que não. Só se for o preparativo para a festa! Aquela sensação gostosa que começa quando a gente recebe o convite e se estende até o momento triunfal da entrada no salão. Para mim, festa tem a ver com sonho, com desejo, com confraternização, quebra da rotina...Sei lá, um monte de coisas que podem me deixar momentaneamente ou por um bom tempo extremamente feliz.

Desde criança, sou apaixonada por festas. Mas, reconheço que, quando pequena, era uma "pessoinha" meio enjoada, daquelas que grudam na barra da saia da mãe e não a largam por nada. A idéia de festa, na época, também costumava me incomodar um pouco, acho que pelo fato de ser obrigada a usar aqueles incômodos sapatos de verniz de bico fino. Até hoje, meus pés sofrem por causa daqueles tempos... Mas eu já gostava do glamour das festas. Das roupas, das jóias reluzentes das mulheres, dos ponches servidos em belíssimas taças de cristal. Naquele tempo, festa que se prezasse tinha sempre muita comida, alguma bebida, e uma infinidade de peças de prata e cristal.

Na adolescência, continuei sendo freqüentadora de festas, um hábito que com certeza herdei de meu pai. Ele freqüentou as grandes festas da sociedade carioca, naqueles anos dourados da década de cinquenta. Conheceu Ibrahim Sued, Mariozinho de Oliveira, Jorginho Guinle; a pérgula do Copa e as fantasias do high society, embora ele próprio não pertencesse a um grupo tão exclusivo. Eu não cheguei a freqüentar as festas do Country Club, mas, nos anos setenta, fui embalada pelo rock e as inesquecíveis músicas de protesto, tudo regado por uma boa dose de cuba libre. Uma vitrola, alguns vinis e algum espaço para dançar: pronto, a gente fazia a festa!

Hoje, parece que as pessoas andam cansadas até mesmo de dar festas. Não tem jeito. Festas em casa, que, na minha opinião, são as melhores, então, nem pensar! Todo mundo acha mais prático contratar o buffet, alugar o salão, fazer tudo de forma menos trabalhosa. Concordo que os tempos mudaram e o tamanho das residências diminuiu significativamente, mas não posso deixar de ficar saudosista, quando me lembro das grandes festas de que pude participar na casa de alguns grandes convivas.

Mas a mudança no espaço das festas não me faz desanimar. Chego a sonhar com elas meses a fio. E participo de todo um ritual, que vai desde a escolha do figurino, até mesmo a cor do esmalte das mãos. Faço questão de atender aos convites e de me preparar da mesma forma que o dono da recepção. Isso me dá prazer e me faz curtir em dobro o momento da festa. Mas vejo que cada vez menos pessoas se envolvem assim. Tem gente que, mesmo recebendo o convite, não faz a menor questão de participar ( embora, é lógico, existam sempre aqueles que ficam à espreita, só mesmo esperando para pedir o convite que vai sobrar, são aqueles popularmente conhecidos como "bicões", ou até mesmo "penetras" ). Às vezes, eu mesma não acredito: como é que fulana vai deixar de ir numa festa daquelas!!!!!!! E as pessoas fazem isso com tanta tranquilidade... Eu não. Se não puder ir, e isso acontece também, fico sofrendo, pensando naqueles preciosos minutos que não vivi, nas pessoas que deixei de encontrar, nas músicas que não pude dançar.

Acredito que os tempos mudaram, sempre mudam, afinal! Mas acredito que o pior mesmo é a falta de ânimo. Porque, pensando bem, festa boa não precisa de luxo. Eu mesma já participei de algumas ótimas, na base do churrasco de costela, cerveja e pinga. Festa boa não precisa de muita comida nem bebida, embora isto ajude, sem dúvida! Festa boa precisa é de gente, pessoas querendo rir, se divertir, brincar. E eu acho que o que mais faz falta, hoje, é gente. Pessoas que se reúnem num determinado lugar pelo simples prazer de compartilhar seus momentos, de festejar. Melhor ainda quando tudo isso não precisa de nenhuma super-produção. Quando cada um ajuda com um pouco, mas com a firme determinação de fazer daquele momento alguma coisa de inesquecível, de, lembrando o poetinha Vinicius, "eterno, enquanto dure". Que a festa seja na cozinha, na área, no quintal. Mas que seja festa e que nos deixe feliz!