Librianos de boa cepa
Meu horóscopo não mente. Sou aquariana e por isso mesmo, dentre todos os signos do Zodíaco, tendo a me relacionar melhor com os geminianos e librianos. Estamos em outubro, mês dos librianos. Dezenas deles já marcaram minha vida de uma forma ou de outra, por isso, rendo a eles uma homenagem. Todos sem exceção foram e ainda são responsáveis, por me transformar num ser humano mais pleno, numa sem dúvida excelente conjunção astral.
Minha avó paterna era de Libra. Morávamos na casa dela, no Rio de Janeiro. Durante muito tempo foi ela quem me mimou com aqueles mimos de avó: sais no banho para me perfumar, pente fino no cabelo para desembaraçar, baba de moça para me deliciar...Vovó tinha gênio forte, mas também aquele sentimento romântico dos amores impossíveis, das histórias de Abelardo e Heloísa. Ela também, na juventude, numa longínqua Florianópolis, tinha sido vítima dos males de amor. Sonhou então em ser freira, queria viajar para Lisieux, na França, mas acabou se casando, tendo dois filhos, seis netos e dez bisnetos.
Outro libriano inesquecível foi meu avô materno. Falava pouco, ouvia muito. Tinha um charme meio bogartiano com aquele charuto entre os dedos, olhando a fumaça a se espalhar pelo ar. Gostava das coisas da vida, principalmente das mulheres. Nas suas lembranças, acho que ele sempre teve um lugar bem guardado para as francesas da juventude e as mulatas da meia-idade. Sob o ar britânico, parecia dormir um insaciável ibérico, com direito a todas as ascendências mouras possíveis. Amante dos bons restaurantes, adorava livros picantes, como eram considerados, na época, aqueles de Jorge Amado. Mineiro, era apreciador de teatro e cinema, e nada parecia chocá-lo nem aqui, nem alhures.
Na adolescência, minha melhor amiga também era libriana. A Regina fugia um pouco aos padrões da época. Era extremamente irreverente, adorava roupa indiana e não se perturbava nunca com o que os outros poderiam pensar sobre ela. Quando todo mundo se preparava para o vestibular, Regina dizia que, definitivamente, não queria entrar para a faculdade. Mas também não queria ficar na janela, vendo o tempo passar. Foi trabalhar. Como a maioria das garotas da minha geração, casou-se e teve um filho. Perdi o contato com ela, mas soube que acabou estudando Psicologia. Deve ser uma bela profissional, porque tinha imenso talento para isso.
Hoje, minha libriana predileta é uma menininha que está completando quatorze anos. Foi um bebê esperto e muito gordinho, daqueles que a gente só pensa em apertar. Falava pouco, quando pequena, e também não era de chorar. Aos quatro anos, já parecia saber tudo o que queria. Determinada, quando resolvia fazer uma coisa, aquilo ficava resolvido. Mas também quando não queria fazer, era um Deus nos acuda! Lembro-me bem quando tive que levá-la à fonoaudióloga. A sessão começou e nada da menina abrir a boca! Ela não gostava e, terminantemente, não colaborava. Ficou muda o tempo todo, sem dar um pio! Outras vezes, lidando com adultos, destravava a língua, na hora menos esperada, para fazer aquele comentário simples e direto, sem usar quaisquer meias-palavras, deixando-me vermelha e sem graça, embora ela tivesse toda a razão.
Adolescente, a libriana desta história cresceu. Hoje, fala pelos cotovelos, aliás, não fala nem tanto, só que fala muito rápido, tão rápido que a gente mal entende. É alta, esguia, tem os cabelos encaracoladas, sobrancelhas grossas e um narizinho que é marca registrada da ( minha ) família. Como toda garota da sua idade, adora um bate-papo, de preferência ao telefone ou via internet, pelo ICQ. É alegre, curte festa, show, rua, viagem, movimento, amigas, gente. É inteligente e tem solução para muitos problemas corriqueiros que às vezes me tiram do sério, principalmente aqueles que exigem habilidade manual. Tem senso de humor, tantas idéias que não é raro eu achar que ela vive num outro mundo. Gosta de ler, é criativa, vaidosa, cuidadosa. Como toda libriana, não será nunca uma simples "patricinha", porque tem o temperamento forte e segue o seu caminho com incrível determinação. Como outros librianos, mora no meu coração. Como tantos outros que aqui não foi possível citar, abre janelas em minha vida, me tira dos sério muitas e muitas vezes, me faz sorrir e chorar. Por ela, minha pequena ( hoje, bem mais alta do que eu ) libriana, que se chama Isabel, sinto bater forte o meu coração, e posso entender melhor as coisas que a razão não explica, nem conhece, e só o sentimento nos faz vivenciar.
Christina Ferraz Musse
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