Por Christina Ferraz Musse

Como todo o ser humano, eu queria tempo, mais tempo. Queria todos os segundos, todos os preciosos segundos que a idade me rouba. Queria dias que escorressem devagar, sem a alucinação e a sensação de estar sempre correndo. Afinal, correndo atrás de quê? Correndo atrás do tempo. Querendo desdobrá-lo, multiplicá-lo, elevá-lo à enésima potência mas, mesmo assim, na eterna certeza de que, exausta, chegando ao final da linha, ao final do tempo, eu ainda me sentiria impotente para ganhar.

Desde pequena, a idéia de tempo, de absoluto vem me assombrar. Deitada na cama do quarto, eu tentava decifrar o mistério da vida, de um universo sem fronteiras, antes que os astrônomos descobrissem que tudo não passa de uma equação matemática lógica e sem graça. Como, naturalmente, eu não conseguia sair da dimensão do meu mundinho e muito menos sair do meu corpo e flutuar, fiquei sem respostas e com muitas questões.

Agora, sozinha no quarto, décadas mais velha, continuo a ficar fascinada com o questão do tempo. Corro para onde? Corro para quê? Ah, eu sei que tem gente que fala que o importante é o processo e, não, o objetivo, mas como me aquietar e me concentrar na jornada, quando a legenda : "the end" sempre me pareceu tão segura, tão reconfortante. Quem sabe se eu dormisse menos? Ai, fico a invejar os insones, que trabalham até alta madrugada e me parecem dar conta de tudo. Será que o tempo os angustia? Será que o fato de dormir oito horas por noite é anormal? Ah, tempo...

Na sala de aula, meus alunos me chamam pelo respeitoso tratamento de "senhora", mas que saudade do "você". Os amigos de minha filha vão às festas e não tomam mais refrigerante, não são mais crianças, são adultos, ou quase, e tomam cerveja e fumam e dirigem carros. Para usar o computador, eu tenho que pedir licença ao meu filho de oito anos, que espera impaciente, ao lado, pela vez dele. Ah, gente, não é mais só questão de tempo, é também de espaço. A geração multimídia faz tudo ao mesmo tempo, agora, parece que eles conseguem "esticar" ou "comprimir" o tempo, sei lá, mas eu, da Velha Guarda, gosto de fazer cada coisa de uma vez, e estou sempre correndo atrás, como quem corre o risco de perder o trem, perder a hora, perder o dia, naquele segundo! Tudo sempre no limite, respiração ofegante, e aquela sensação de que não vai dar!

O pior é que mesmo correndo tanto, eu continuo sempre atrasada, às vezes até alienada. Não adianta competir com o tempo. Acho que talvez seja mais interessante reinventar o tempo. No mínimo, é preciso tentar. Sei que é mais sábio ouvir, do que falar. Sei também que, sendo nossa vontade, ou não, a vida nos faz aprender a esperar, Ter paciência, aguardar. Acho que não sou um caso perdido. Vou tentar...

Christina Ferraz Musse