Por Christina Ferraz Musse

Minha avó dizia que os quinze anos eram os seus preferidos, a melhor fase da vida, e recitava: "Ah, que saudades eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais..." Eu discordo. Acho que a melhor fase da vida são os dezesseis. É assim com a minha jovem filha, que se exercita na bicicleta ergométrica, assistindo à MTV. Ela faz dezesseis anos e explode de vitalidade e energia.

Minha menina de dezesseis quer "ter asas de borboleta azul", como no texto da Roseana Murray, quer "sair do mar, navegar, poitar, pescar, pecar, beber, morrer, sonhar talvez, quem sabe?", como o Rubem Braga, e certamente "dançar até o sapato pedir pra parar", como diria o Chacal. Ela tem cabelos anelados, pincelados com a cor da cenoura, olhos amendoados, como seria de se esperar de alguém que tem um pezinho no Oriente, um belíssimo sorriso, e, aí, convenhamos, puxou a mãe...Minha menina não é alta, nem baixa, tem lindos seios, coxas grossas, e um jeitinho maroto, bem brasileiro.

Ela gosta de música. Ouve bossa nova, Chico, Gil e Caetano, como os pais, mas aposto que prefere o Charlie Brown, o Rappa ou o Tijuana. Minha menina já estudou piano, hoje, toca gaita, e conta histórias como ninguém. Adora ler crônicas, escreve com o coração e chora, se for fisgada pela emoção. Ela ama o mundo, quer viajar e ser livre. Muito mais sábia do que eu, ela sabe ser feliz consigo mesma, sem precisar necessariamente do aval ou da aprovação do outro. Aliás, devo dizer que, seguindo a linha genética da família, ela consegue ser doce e ranzinza, ao mesmo tempo. Normalmente, é pelo consenso, mas, se ficar com raiva, é aquela raiva curtida, que ocupa o peito muitos e longos dias.

Aos dezesseis, ela está preocupada em viver o agora, o momento. Quer andar sempre em bando, em grupo. Encontra-se com as amigas só mesmo pelo prazer de conversar, sem precisar nem mesmo da cerveja ou do tira-gosto. Mas se tem festa, aí, não tem hora, nem frio, nem cansaço. A vida vira uma criança, o tempo corre em segundos, a madrugada foi feita para se ficar acordado. Aos dezesseis, quem é que conhece cansaço, desânimo, preocupação? Quem faz contas para não estourar o cheque especial ou se debruça sobre o já esmiuçado orçamento do mês? Aos dezesseis, quem fica amargo, depois da briga com o parceiro, ou economiza momentos, porque o despertador toda cedo, no dia seguinte?

Fico pensando que, nesta fase da vida, a gente consegue ser totalmente autêntica e feliz. A gente consegue viver tudo plenamente. A gente não tem vergonha, não tem medo, dinheiro não é problema, conforto não é necessário. A gente sabe arriscar e sonhar. A gente não está nem aí para as convenções sociais ou para que os outros vão pensar...

Salve os dezesseis. Salve os dezesseis vezes dois, vezes três. Se a gente pudesse aprisionar num frasco toda aquela maravilhosa sensação de frescor, de independência, aquela certeza de ser totalmente indispensável ao bom andamento do Universo... Ah... seria bom, muito bom. Não tenho mais dezesseis. Nunca mais vou ter dezesseis. Mas resgato o prazer daqueles anos nos olhos daqueles que estão a viver momentos tão plenos. E confesso: sou feliz por me deixar contagiar, por tentar derrubar as barreiras e deixar fluir o ar.